Liderança e engajamento de times na era digital.

Rachel Rothier

Quando se fala em ser humano, quase que automaticamente vem a reboque o temido mundo dos conflitos entre times, entre departamentos e hierarquias. Por natureza, pessoas são igualmente complexas e adoráveis. O primeiro passo ao se montar um time (ou mesmo assumir um já pronto) é conhecer os indivíduos que fazem parte dele. Basicamente, resume-se a estar sempre presente, ter uma escuta ativa e observação atenta. Mais do que ouvir, compreender o comportamento do outro é fundamental. Muito do que não é dito verbalmente é expressado pelas atitudes. Cabe ao dirigente se demonstrar receptivo e ser o ponto de apoio. Gerenciar sem empatia é impensável no mundo atual. Há de se colocar no lugar do outro a fim de gerar credibilidade. Acima de tudo, apresentar uma postura em que os valores de caráter, dignidade e integridade sejam perceptíveis. Prezar na forma de agir, traços importantes como serenidade, honestidade, lealdade e autenticidade. Pessoas costumam responder melhor quando admiram, confiam e se sentem cuidadas. A confiança, quando conquistada, possibilitará extrair o melhor dos colaboradores. Para tanto, é necessário que o líder tenha uma postura firme, consistente e clara. Caso contrário, a tendência é que haja ainda mais predisposição a gerar desacordos. Não que os evite. Problemas e desafios devem fazem parte do cotidiano do gestor, assim como sua paixão por superá-los. Mas ao conhecer a fundo a empresa, os processos, estar próximo às pessoas, manter-se bem informado e alerta a tudo que se passa, facilita o processo. E, tão importante quanto saber solucionar divergências, é tentar antevê-las. Um olhar apurado, sensível, quase intuitivo, prevê desentendimentos desnecessários. E quando o conflito é inevitável ou já está instalado, utilizar-se de recursos – às vezes até externos – e criatividade para resolver é o caminho. Aliás, ter criatividade na vida é uma característica valiosa, particularmente em dirigentes. Com ela, o poder de transformar adversidades em oportunidades acontece naturalmente. 

O papel do líder em tempos atuais é mais de orientador do que aquele tradicional modelo de chefe opressor confinado em sua sala engolido por uma mesa abarrotada de papéis. Ambiente ameaçador e pouco acolhedor aos olhos da equipe. Empresas modernas posicionam suas lideranças em locais físicos estratégicos justamente para facilitar a comunicação. Por sinal, a comunicação provavelmente é o vilão número 1 em muitos times por aí. Diante disso, ela merece uma atenção especial. Treinamentos de escuta, dinâmicas de grupo e oportunidades de discuti-las fazem parte, ou pelo menos deveriam, de qualquer organização. Com a prática de feedbacks, o grupo, além de entender onde estão os pontos de melhoria, tem a oportunidade de ser reconhecido. Outro ponto vital para a saúde da companhia. Quando há reconhecimento dos méritos, os profissionais entendem onde se destacaram, a importância do papel deles no sistema, se sentem parte da engrenagem e consequentemente estimulados. Afinal, o capital intelectual é o que as corporações têm de mais precioso. Reuniões frequentes, ainda de forma remota em times não colocados na mesma cidade, onde se possa falar abertamente sobre problemas e ajudar a trazer soluções refletem em uma rotina de maior produtividade. Além de ser uma oportunidade de se reforçar positivamente os comportamentos desejados, observar os gargalos e apontar caminhos. 

Quando se fala em comunicação entre áreas, o desafio é ainda mais curioso. Comumente, cada grupo defende o que lhe compete, e o restante – os não-pertencentes – praticamente tornam-se adversários. Há de se ter como foco a saúde da instituição para que tudo se encaixe perfeitamente e, assim, as peças se unam com o intuito de gerar os resultados esperados. Estimular a troca entre estas equipes para que compartilhem suas dores, experiências e visões a respeito das situações é vital. Muitas vezes as oportunidades estão visíveis, mas não óbvias. Cabe ao gestor fazer uma análise crítica do momento: apresentar uma visão macro das atribuições de cada um, o impacto delas considerando o todo, desafiar o senso comum a fim de chegar a soluções tangíveis para a empresa e tomar decisões com base em fatos. Aprender a se comunicar assertivamente é questão de sobrevivência. Bons comunicadores seguramente são mais felizes. 

Trabalhar com times de alta performance, cujos membros sejam apaixonados pelo que fazem, é altamente empolgante e o objetivo de todo gestor. Para isso, as companhias deveriam investir em constantes treinamentos às lideranças apresentando novas ferramentas e técnicas, que usadas adequadamente, colaboram – e muito – na rotina. Vide a massiva aderência de metodologias tais como ágil, scrum, lean e design thinking por pequenas, médias e grandes empresas de todo o mundo onde o papel do líder configura-se mais como um facilitador de equipes, estimulando a independência, delegando autoridade nas decisões básicas a membros do grupo que passam a assumir algumas responsabilidades. É a era do compartilhamento de liderança e dos times autogerenciáveis que erram, acertam, ousam e arriscam. Falhar faz parte do processo de aprendizagem. 

Seja na função operacional ou estratégica, o dirigente deve ser um eterno inconformado-curioso. Daqueles que não se desestimulam com uma negativa, buscam novos recursos, se deslumbram ao se deparar com times compostos por indivíduos diversos, porém complementares; ficam radiantes com novas ideias e se desafiam diariamente. A inquietude de um líder o leva a patamares que talvez ele nunca tenha sequer imaginado estar, espelhando, desta forma, no grupo que assumiu. Se responsabilizar por decisões, liderados, atitudes, até pelos contratempos faz parte do pacote. Assumir riscos, calcular o previsível, ser ousado, flexível e equilibrado contribuem igualmente. É uma evolução contínua a serviço de si mesmo e a favor da organização. E por falar em equilíbrio e processo evolutivo, nada supera a famosa inteligência emocional. Ela é a base de tudo. Por definição, de acordo com o dicionário Michaelis, é um conjunto de aptidões cerebrais que interferem, de forma favorável, no reconhecimento das emoções, dos próprios sentimentos e do sentimento dos outros, aproveitando as informações como orientação para aprimorar o modo de pensar e de agir. Na prática, contribui para os relacionamentos humanos. Considerando que uma companhia é feita por pessoas, este atributo é indispensável. 

O fato é que todos nós precisamos nos sentir importantes. O líder deve ter a competência de extrair o melhor de cada membro da sua equipe, assim como a destreza de controlar os egos. É bater o olho e saber onde aquele profissional se destaca e auxiliá-lo a se desempenhar na máxima potência até que vire um hábito. E conseguir distinguir, em eventuais rusgas entre o grupo, o que foi apenas reflexo de briga de egos. Em ambientes competitivos, dar margem às desavenças em prol do crescimento da empresa é prato cheio para desunião e baixo desempenho. Quando um gestor não consegue contornar os antagonismos entre as pessoas, driblar burocracias rotineiras, fixando apenas nos problemas, a tendência é que uma grande desordem venha à tona. Não raro esta é a realidade de muitas empresas e o motivo de fracasso de tantas outras. 

Especialmente no que se refere aos conflitos de gerações. Diferentemente do que muitos imaginam, a junção de pessoas que nasceram em diferentes épocas – e daí podemos listar os baby boomers, x, y (millenials) e z – têm um ponto de interseção; e muito a colaborar. O dirigente precisa estar atento a esse rico mix de repertório, estimulando a troca com o objetivo de encontrar as melhores soluções para a própria instituição. Parte-se do princípio de que todos têm a ensinar e aprender. Não que exista uma fórmula mágica para a boa convivência entre eles, mas o fato é que precisam funcionar como equipe. O trabalho coletivo demanda tolerância e respeito, independente de faixa etária. Gigantes do mundo corporativo, ao adquirir startups e juntá-las às equipes tradicionais já firmadas, deparam-se com o desafio de unir capitais intelectuais diversos. O objetivo das aquisições é se reinventar: conhecer novos modelos, visões, processos, angariando oportunidades de atuação em um mercado cada vez mais competitivo. Para as jovens empresas, geralmente compostas pelas gerações y e z, o ganho está na possibilidade de absorver a estrutura e experiência já consolidadas das grandes organizações. Além de ter muitas portas abertas, tanto de novos clientes, quanto de novos negócios. Iniciativas como essa parecem ser uma tendência como motor de crescimento para ambas – antigas e novas empresas. 

Muitas vezes, assoberbados pelo trabalho e reféns da pressão da rotina, os gestores deixam de lado o que é melhor para a companhia e se fixam nas intempéries do choque das gerações. Confrontos despropositados não levam ao crescimento e liquidam o clima organizacional. Definir papéis claros, indicadores mensuráveis, estabelecer metas e nortear os novos rumos para o futuro são questões imperativas. Existe uma infinidade de maneiras de engajar uma equipe heterogênea e muitas empresas já se dedicam a essas práticas criando, inclusive, ambientes de descompressão com lounges, espaço para sinuca, dardos, massagens, além de proporcionar atividades extras promovendo o lazer e a interação fora do ambiente de trabalho. 

Seja fazendo parte de uma estrutura tradicional, contemporânea ou futurista, os dirigentes devem transitar por qualquer campo equilibrando competências. O que não se restringe apenas a uma fácil navegação entre áreas, personalidades, valores e processos, mas sim assumir um papel de suma importância: o de construir uma cultura organizacional aberta ao novo, que valorize o encontro de gerações e integre todos os recursos na mesma direção. A capacidade de entrega de um profissional, quando relevante, deveria ser mais valorizada do que o tempo de serviço dele na casa. Hoje se vê startups cujos fundadores têm 20 e poucos anos operando grandes contas com expressivos faturamentos. É a consolidação de um novo paradigma da 4ª Revolução Industrial. Essa era digital e a avalanche revolucionária que ela trouxe com a adoção tecnológica reinventou as companhias, e, por conseguinte, a gestão delas. Antigos modelos fragmentados estão ultrapassados. Simplesmente não ecoam mais em um mundo cada vez mais disruptivo. Empresas estão se readaptando para atender aos anseios de um novo perfil de consumidor, colocando-o como protagonista. Os recentes modelos de negócios estão absolutamente conectados, integrando plataformas e facilitando a usabilidade para quem os consome. Daí a importância dos times multidisciplinares cuja premissa é a da diversidade, do pensamento fora da caixa. Indivíduos que juntos conseguem desenvolver soluções inovadoras para um público cada vez mais informado, exigente e participativo. O mundo caminha exponencialmente para a robótica, inteligência artificial, nanotecnologia, big data, computador quântico, machine learning, IOT (internet das coisas) e seguramente outras milhares de tecnologias que estão por vir. Dito isso, o gestor capacitado é um visionário dentro de um ecossistema que se transforma sem precedentes. Um verdadeiro maestro, concatenando milhões de sinapses, redefinindo papéis, ajustando metas, equilibrando egos, estimulando vínculos, conectando talentos, implementando soluções, vencendo barreiras e ajudando a construir um novo mundo. Até porque, a tecnologia por si só não é o agente transformador. Indubitavelmente é o personagem principal, mas sem o auxílio de integradores, líderes dedicados à execução de protótipos, nada sai do papel. É imperativo o engajamento de todos os colaboradores no mesmo propósito. 

Em empresas, independente do tamanho, do ramo de atuação, quem faz a diferença é o profissional. Escritórios modernos são lúdicos, coloridos, incríveis de se estar e altamente estimulantes. Nada melhor do que trabalhar em um ambiente favorável, harmonioso e produtivo. Tecnologia é um facilitador: computadores de última geração, softwares de ponta, maquinários robotizados. Mas tudo isso pode ser facilmente replicado. Basta o primeiro inventar. O que realmente importa é ter um time de colaboradores satisfeitos, comprometidos, jogando junto em prol de um objetivo comum, com uma liderança que os inspire, empodere, recompense e compreenda cada ser humano, cada projeto de vida que ali está. Estes sim são fatores determinantes que dividem corporações vencedoras de empresas esforçadas.  

Pessoas costumam responder melhor quando admiram, confiam e se sentem cuidadas.